22 agosto 2008

Soneto a Octávio de Faria

Não te vira cantar sem voz, chorar
sem lágrimas, e lágrimas e estrelas
desencantar, e mudo recolhê-las
para lançá-las fulgurando ao mar?

Não te vira no bojo secular
das praias, desmaiar de êxtase nelas
ao cansaço viril de percorrê-las
entre os negros abismos do luar?

Não te vira ferir o indiferente
para lavar os olhos da impostura
de uma vida que cala e que consente?

Vira-te tudo, amigo! coisa pura
arrancada da carne intransigente
pelo trágico amor da criatura.

(Vinicius de Moraes)

20 agosto 2008


"Se você soubesse o que é a vida no espaço
Não estaria assim tão doida
Pra por fogo no rabo do foguete, no rabo do foguete."

15 agosto 2008



Ardendo de curiosidade, ela correu pelo campo atrás dele, a tempo de vê-lo saltar para dentro de uma grande toca de coelho embaixo da cerca.


No mesmo instante, Alice entrou atrás dele, sem pensar como faria para sair dali.


A toca do coelho dava diretamente em um túnel, e então aprofundava-se repentinamente. Tão repentinamente que Alice não teve um momento sequer para pensar antes de já se encontrar caindo no que parecia ser bastante fundo.


Ou aquilo era muito fundo ou ela caía muito devagar, pois a menina tinha muito tempo para olhar ao seu redor e para desejar saber o que iria acontecer a seguir. Primeiro, ela tentou olhar para baixo e compreender para onde estava indo, mas estava escuro demais para ver alguma coisa; então, ela olhou para os lados do poço e percebeu que ele era cheio de prateleiras: aqui e ali ela viu mapas e quadros pendurados em cabides. Alice apanhou um pote de uma das prateleiras ao passar: estava etiquetado “GELÉIA DE LARANJA”, mas para seu grande desapontamento estava vazio: ela não jogou o pote fora por medo de machucar alguém que estivesse embaixo e por isso precisou fazer algumas manobras para recolocá-lo em uma das prateleiras.


“Bem”, pensou Alice consigo mesma. “Depois de uma queda dessas, eu não vou achar nada se rolar pela escada! Em casa eles vão achar que eu sou corajosa! Porque eu não vou falar nada, mesmo que caia de cima da casa!” (O que era provavelmente verdade).


Para baixo, para baixo, para baixo. Essa queda nunca chegará ao fim?


“Eu adoraria saber quantas milhas eu caí até agora”, ela disse em voz alta. “Eu devo estar chegando em algum lugar perto do centro da terra. Deixe-me ver. Até aqui eu já desci umas 400 milhas, eu acho... (você vê, Alice aprendeu uma porção desse tipo de coisas na escola e pensou que seria muito boa a oportunidade de colocar para fora seu conhecimento; mesmo não havendo ninguém para ouvi-la, ainda assim era bom praticar.)


”Sim, acho que está correto, mas em que Latitude e Longitude estaríamos?” (Alice não tinha a mais leve idéia do que Latitude era, ou Longitude tampouco, mas ela pensava que eram boas palavras para se dizer.)


Logo ela começou novamente: “Eu queria saber se eu posso cair direto através da terra! Como seria engraçado surgir entre as pessoas que caminham com suas cabeças para baixo. Os antipáticos, eu acho... (ela estava menos triste que não houvesse ninguém ouvindo agora, porque aquela não soou como a palavra correta) mas eu tenho que pedir-lhes que digam o nome do país deles, sabe. Por favor, madame, aqui é a Nova Zelândia? Ou Austrália? (e ela tentou fazer uma reverência enquanto falava — tentar fazer uma reverência enquanto se cai no ar! Você acha que poderia controlar isso?) Ela iria pensar que eu sou uma garotinha ignorante por perguntar! Não, não vou perguntar nunca. Talvez eu possa ver o nome escrito em algum lugar.”


Para baixo, para baixo, para baixo. Não havia nada mais a fazer, então Alice começou a falar novamente.


“Dinah vai sentir muito a minha falta esta noite, eu acho (Dinah era a gatinha). Espero que eles lembrem de dar-lhe leite na hora do chá. Dinah, minha querida! Eu queria que você estivesse aqui comigo agora. Não há ratos no ar, eu temo, mas você poderia pegar um morcego, e eles são tão parecidos com os ratos, você sabe. Mas será que os gatos comem morcegos?” E aqui Alice começou a ficar sonolenta e continuou falando para si mesma, de uma maneira sonhadora. “Gatos comem morcegos?”, e às vezes “Morcegos comem gatos?”
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(ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS)
Lewis Carroll

12 agosto 2008

Vagos...


Que a umidade seja só por hoje, que cancer descance e deixe chegar leão... que as aguas não baldeiem tanto o equilíbrio, mas que as lágrimas sejam sempre sinceras... que não sequem ao ponto de me faltar as palavras na poesia, no verso, na conversa apressada... que ainda haja em mim aquele amar intenso dos pequenos gesto de minha gente... que ainda seja a vívida esperança de ser o amor de igual... que as diferenças sejam explicitas e postas as mesa afim de saboreá-las em suas pequenugens mágicas... e assim nos sentirmos ampliados serenos da bagagem do outro... e que dela apareça num tilintintar inaudível o objeto esquecido, tão bem quardado no coração do outro...

Que o coração ainda vibre e te deixe ir, e que abandone a mania de chorar a tua dor, de querer te por junto ao colo ao te ver fragil, inseguro... ah, não posso esquecer de esquecer o olhar duro, a tirania o tanto faz repetido, a rigidez da alma... esquecer tudo, talvez deixar apurar por um tempo sem nome na caixinha de flores com as outras lembranças...


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Os oráculos ressoam que a resposta é o fogo.

É o centrar em si, o despejar sempre a água em recipentes feito a barro pelas próprias mãos.

É converger ao ego e modelar intrepidamente a forma da alma.

É recorrer a inteligencia mais nobre de mim.

É sair de cancer e entrar em leão.

09 agosto 2008

A constatação é real.
Estou pairando no ar,
Numa densa nuvem de vapores.
Olho o inacreditável.
Vejo-me iluminada
E quase não me reconheço.

Estou para entrar
Na Porta da Transformação
E na transversal do tempo,
Oriento-me para uma
Possível redenção.

Eu sou a idéia de Deus
E estou aqui para ser.
O horizonte se posiciona
E a vida se mostra
Em toda sua grandeza
Fazendo sombra à morte.

Irrompo, penetro,
Aprofundo-me neste horizonte
E sou atravessada por dentro,
Por uma realidade
Colhida como a um fruto proibido,
Suculento e legítimo.

Sinto-me repleta de vida
E vazia de morte!

extraído de: http://oquecintilaemmim.blogspot.com/2007/08/vida-e-morte.html

Pelos vôos dos ventos afins.

(ao amigo Ravi)



Voa pássaro do bando
que teu canto é infinito...
Deixa o novo vento te pincelar de novas cores
novas penas
novos sonhos
e que soe a fiel essência, do cantador que cá conheço, aos ares de lá.

Voa pássaro do bando
que tua morena te reclama.
Leva teu sorriso de menino
o coração de poeta
a alma que dança
e lança o canto nobre, com a força que te cobre, ao céu do ninho de lá.

Vai pássaro do bando, voa...
voa alto sublime
voa certo seguro
voa lindo encanto...

Vai e voa que o bando
do lado de cá ou qualquer canto
há de voar sempre sereno,
que um dia esse pequeno, de novas cores, novos cantos,
despontará ao horizonte com o mesmo doce semblante
entoando de seu peito arfante
a canção-poema dos amigos de cá.

08 agosto 2008

À amiga ouvinte IV: INSONIA




















Ai amiga, que ela chega feroz,
vem, em sua maldita fúria, roubando toda sanidade, machucando o corpo, perturbando a mente.

Não há nada confortavel, posição ideal, música celestial, carneirinhos contados, maracujás inteiros!

Só zumbidos e desesperos...


(* * *)

Ouça amiga que é dos dias delicados, ouça que o pranto é mudo.

Aquele mundo suspenso, lembra, vez po outra me circunscrita. Torna a me tirar as cores, as formas, os gostos, os cheiros, os sons...

(* * *)

Onde será o tempo do repouso, dos olhos descances, das mãos aquecidas... onde meu peito respirará ritmado, suspirará melodias e reconhecerá moradia... onde há de ter quietude e os sonhos doces... onde...






07 agosto 2008

Amor(ação)


"- Qual a cor desse esmalte?"
"- Paixão."
"- Então passa três 'mãos' dele pra ver se vira amor."


!

!

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Ela tem dito, ele não ouve, que amor pra dentro, sem olhos atentos, mãos carinhosas, passos juntos é como brinquedo querido por trás da vitrine.