22 agosto 2008

Soneto a Octávio de Faria

Não te vira cantar sem voz, chorar
sem lágrimas, e lágrimas e estrelas
desencantar, e mudo recolhê-las
para lançá-las fulgurando ao mar?

Não te vira no bojo secular
das praias, desmaiar de êxtase nelas
ao cansaço viril de percorrê-las
entre os negros abismos do luar?

Não te vira ferir o indiferente
para lavar os olhos da impostura
de uma vida que cala e que consente?

Vira-te tudo, amigo! coisa pura
arrancada da carne intransigente
pelo trágico amor da criatura.

(Vinicius de Moraes)

Nenhum comentário: